Meditação © Amplo Publications

30 de maio de 2017

Palavra e Conhecimento: Dádivas de Deus

“Sempre agradeço a meu Deus por vocês e pela graça que ele lhes tem dado em Cristo Jesus. Por meio dele Deus os enriqueceu em tudo, em toda capacidade de expressão e em todo entendimento. A mensagem a respeito de Cristo de fato se firmou em vocês, uma vez que nenhum dom espiritual lhes falta enquanto esperam ansiosamente pela volta de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele os manterá firmes até o fim, para que estejam livres de toda a culpa no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Deus é fiel, e ele os convidou a ter comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.4-9).


O apóstolo era grato a Deus pelos coríntios, em especial porque Deus havia lhes concedido graça em Cristo Jesus. Paulo afirma que seu louvor ocorria “sempre”, ou seja, constantemente e em qualquer oportunidade. Era uma prática habitual em sua vida. Isso mostra que, ainda que as falhas e erros de uma determinada igreja não possam ser tratados com negligência, o crente deve olhar acima dessas falhas e erros, dando peso maior ao fato de que a graça de Deus alcançou aqueles irmãos. De fato, a gratidão pela nossa igreja deve ser construída tendo em vista especialmente os atos de Deus em seu favor e não os atos dos crentes que a compõem e que, na realidade, muitas vezes nos decepcionam.


Essa era a perspectiva de Paulo, mesmo em face dos grandes desvios dos crentes de Corinto. O apóstolo sabia que Deus havia concedido graça a eles e sabia também que essa graça operava naquela igreja porque os crentes estavam “em Cristo Jesus”. Essa expressão encerra o que alguns gramáticos chamam de “dativo de esfera” e indica que os cristãos estão inseridos numa realidade dentro da qual desfrutam da influência, poder e (como é o caso aqui) benefícios que envolvem alguém que pertence a Cristo.


Paulo olhava, portanto, para os coríntios e enxergava sua imaturidade, seus desvios morais e seus erros doutrinários. Ele jamais fez “vistas grossas” para essas coisas, trabalhando intensamente para corrigi-las. Porém, ele também sabia que os crentes de Corinto, tendo um dia recebido o evangelho, haviam sido postos numa posição privilegiada, tinham sido separados do mundo e inseridos numa esfera libertadora em que a graça de Deus atuava de forma especial, salvando, santificando e influenciando. Eles agora estavam “em Cristo Jesus”. Lembrando-se então dessa tocante verdade, ele agradecia a Deus pelos coríntios... sempre!


Seguindo em frente na exposição de sua ação de graças, o apóstolo especifica alguns benefícios que os coríntios haviam recebido por estarem em Cristo Jesus. “Por meio dele” (ou, “estando nele”) aqueles crentes havia sido enriquecidos “em tudo”, devendo ficar claro que a expressão “em tudo” tem um sentido limitado aqui, restringindo-se ao que é dito logo a seguir. Assim, Paulo está dizendo que os coríntios tinham sido enriquecidos “em tudo” o que se relacionava à palavra (traduzido aqui como “capacidade de expressão”) e ao conhecimento (traduzido aqui como “entendimento”).


O que significa, porém, ser enriquecido em toda palavra? Significa que os membros da igreja de Corinto tinham recebido habilidades especiais no uso da fala. Entre eles havia pessoas que, pela capacitação de Deus, pronunciavam palavras de sabedoria, palavras de conhecimento, profecias e até idiomas estrangeiros (veja-se 12.8-10).** Era, pois, surpreendente que, numa igreja onde havia tantos discursos impulsionados pela ação graciosa de Deus, os crentes fossem tão imaturos e carnais! É certo que lhes faltava zelo e piedade, mas não lhes faltava orientação e, considerando esse último aspecto, Paulo dava graças a Deus pelos coríntios.


Além de serem ricos “em toda capacidade de expressão”, os coríntios também eram ricos em conhecimento. Eles sabiam muitas coisas, sendo versados na sã doutrina ao ponto de se orgulharem disso e desprezarem os menos instruídos (8.10-11; 13.2). Mesmo sabendo que os coríntios agiam desse modo, Paulo agradecia a Deus pelo conhecimento que eles tinham, pois o considerava uma dádiva graciosa, sendo lamentável que aqueles crentes usassem algo tão bom de forma tão má.


Com efeito, em Corinto os dons da palavra e do conhecimento era muito mal usados. Mesmo assim, tratavam-se de dons maravilhosos que Deus havia concedido àquela igreja e pelos quais era justo dar graças.


Consideremos agora a igreja em que Deus nos colocou. Deus a tem enriquecido com pessoas dotadas de capacidades especiais na área da fala? Deus a tem enriquecido com conhecimento doutrinário? Se a resposta for “sim”, então devemos deixar de lado por alguns momentos nossas insatisfações e louvar a Deus por ela. Afinal de contas, somente quem está em Cristo Jesus pode obter essas coisas e realmente desfrutar delas.


Nota:

** Não se deve confundir esse dom com a pronúncia repetida de sílabas sem sentido praticada em tantas igrejas modernas. Em Corinto as pessoas dotadas do dom de línguas falavam idiomas reais sem nunca os terem aprendido. Tratava-se de um dom maravilhoso que deixou de existir no século 1. Com efeito, é impossível encontrar hoje em dia uma comunidade cristã em que a fala sobrenatural de idiomas estrangeiros faça parte da experiência comum, constante e regular da igreja como acontecia em Corinto.


pr. marcos granconato

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