Meditação © Amplo Publications
Nos últimos dois meses, passei por três internações: uma de seis dias, uma de três e outra de catorze dias. Foi tempo suficiente pra conhecer pessoas novas, testemunhar dramas terríveis e ouvir histórias inusitadas. Nesse último aspecto, quantas histórias ouvi! Histórias de pessoas que ficaram dez anos internadas, histórias de crianças que nasceram e cresceram sem nunca saírem do hospital, histórias de famílias que, no primeiro dia de internação de um parente, brigaram com o hospital inteiro exigindo tudo, mas que, já no segundo dia, desapareceram, deixando o internado sozinho e esquecido, sem amparo familiar nenhum.
De todas as histórias que ouvi, uma em especial me impactou bastante. Foi o caso de um senhor que teve de ser internado por um longo tempo, para tratar não sei que enfermidade. Disseram para mim que esse homem estava um dia em seu quarto e seu filho chegou para visitá-
— Pai, eu trouxe esse extrato bancário para ser seu acompanhante durante o tempo aqui. Ao longo de toda a sua vida o senhor só se preocupou com ele, só pensou nele e fez tudo por ele. Agora eu o trouxe aqui como seu maior amigo e companheiro para estar ao seu lado e lhe dar apoio nessas horas difíceis. Aproveite bastante o amparo dele, porque o meu amparo o senhor não vai ter.
Deixou, então, o extrato bancário sobre a mesa e saiu.
Essa história me deixou impressionado. Não acreditei que alguém fosse capaz de fazer uma coisa dessas com o pai doente. Eu sei que alguns, a essa altura, devem estar pensando: “De fato, foi muita maldade da parte do filho, mas já imaginou o que esse pai fez pra criar no moço essa disposição? Certamente ele colheu o que plantou. Fez por merecer...”.
Sim, eu também imagino o quanto aquele pai foi egoísta, ausente e distante, trocando a família pelo lucro, deixando os filhos e a esposa sem a amizade e a direção de um provedor amoroso e aumentando o número de "órfãos de pai vivo", tão crescente em nossa época. Sem dúvida, aquele pai pecou contra Deus e contra os seus, provocando a imensa ira de seu filho, em desprezo ao que ensina Paulo em Efésios 6.4.
Contudo, mesmo essas coisas sendo nítidas e fora de discussão, o fato é que a atitude do filho jamais pode ser aprovada por nós que somos crentes. Isso porque a Bíblia não diz “honra a teu pai e a tua mãe se eles...”. Não! Ela diz apenas “honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12), sem fazer qualquer ressalva para dizer que tipo de pai ou de mãe deve ser honrado.
De fato, a honra aos pais não deve ser uma retribuição dada a eles pelos bons serviços que nos prestaram. Antes, deve ser uma resposta à ordem de Deus que enaltece a paternidade/maternidade pelo simples fato de ela ser o veículo por meio do qual o milagre da nossa vida ocorreu e a realidade da nossa existência veio à luz. Ademais, lembremos que esse papel gerador é tão sublime que Deus o envolveu com um manto de honra ao compartilhar seu próprio nome (Pai) com todos aqueles que geram filhos. Na verdade, o selo do nome de Deus colocado sobre essas pessoas deveria, por si só, fazer com que todos os filhos honrassem seus pais.
Estamos no mês de agosto, também chamado “mês dos pais”. Por isso, achei apropriado escrever essas coisas, na expectativa de que os discípulos de Jesus ajustem sua vida ao que Deus requer também nesse aspecto. Num tempo em que as crises familiares, marcadas por divisões, conflitos e desrespeito fazem parte da experiência da maior parte das famílias, nós que somos o povo santo — raras luzes que brilham na noite de uma época corrompida — temos o dever de ser diferentes, honrando não somente quem merece, mas também a quem Deus ordena, quer gostemos, quer não.
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