Meditação © Amplo Publications
A expressão “igreja fria” não aparece na Bíblia. O mais próximo que se chega disso está em Apocalipse 3.15-
Poucos crentes modernos entendem isso. Então, seguindo meras intuições interpretativas, acreditam que as alusões de Jesus à temperatura da igreja de Laodiceia tinha a ver com a forma de seus cultos. A partir daí, sem base alguma, consideram morna ou fria a igreja que se apresenta da seguinte maneira:
1. As pessoas se comportam normalmente em seus cultos, sem gritar, chorar, pular ou rolar no chão;
2. O culto se concentra na exposição da Palavra e os crentes acompanham atentos e silenciosos essa exposição;
3. Os cânticos são equilibrados, sem excesso de volume e sem danças ou coreografias muitas vezes carentes de sentido;
4. As orações são feitas por uma pessoa de cada vez, de forma que todos podem ouvir as palavras de quem ora e dizer conscientemente o amém no final;
5. As emoções dos adoradores ficam dentro da normalidade, livres de arroubos frenéticos e comportamentos bizarros;
6. O ambiente em geral favorece o aprendizado, a reflexão, a autoanálise, a confissão de pecados e a adoração consciente.
Curiosamente, pessoas que se apresentam como cristãs nutrem verdadeira repugnância por tudo isso e dizem que essas seis características são próprias da igreja sem vigor espiritual, sem vida e sem calor. Para elas, essas características devem ser removidas e substituídas por outras que, segundo entendem, marcam as “igrejas quentes”. Essas características são as seguintes:
1. As pessoas se comportam de forma excêntrica, gritando, chorando, grunhindo, uivando, rastejando pelo chão, dando gargalhadas e imitando gente embriagada;
2. O culto não tem exposição da Palavra. Em vez disso, o “pregador” grita jargões, profecias e frases de vitória, esguelando e gesticulando loucamente para dar autoridade e peso às palavras vazias que pronuncia;
3. O cânticos ocupam a maior parte da reunião e desembocam em confusão, danças e gritos, com os instrumentos num volume ensurdecedor que anula o raciocínio e o bem-
4. As orações são feitas com todos falando ao mesmo tempo. A balbúrdia chega ao seu apogeu quando a massa começa a pronunciar o que acredita ser “línguas estranhas”, enquanto muitos sapateiam, gesticulam, contorcem o rosto e caem no chão;
5. As emoções são vistas como a medida da espiritualidade. Assim, quanto mais emoção o adorador demonstra, mais espiritual ele é considerado. Com isso em mente, as pessoas perdem qualquer noção de compostura e adotam comportamentos que nem mesmo num hospício é possível encontrar;
6. O ambiente é absolutamente desfavorável ao aprendizado, à reflexão, à avaliação de si e ao que Paulo chamou de “culto racional” (Rm 12.1).
De acordo com a mente evangélica dominante, esse segundo modelo é o aprovado pelo Espírito Santo, enquanto o primeiro é pervertido, improdutivo e desagradável a Deus.
A esse grau de inversão chegou a “mentalidade cristã” de nosso dias — uma mentalidade sem discernimento, incapaz de aprovar as coisas excelentes (Fp 1.10), que chama o mal de bem e o bem de mal (Is 5.20) e que, pra piorar, se gaba disso tudo, considerando-
Que Deus livre os seus servos fiéis de todos esses desvios e desatinos e os mantenha lá no alto, sobre os belos picos nevados da verdadeira espiritualidade, bem longe das florestas barulhentas onde pulam os índios pagãos e seus feiticeiros, lá embaixo.
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