Meditação © Amplo Publications
A proposta da chamada Missão Integral
Em julho de 1974, reuniu-
Os líderes reunidos em Lausanne revelaram preocupação com muitas ameaças atuais dirigidas contra a igreja. Eles perceberam corretamente que uma dessas ameaças eram as propostas liberais que privavam o cristianismo da genuína mensagem bíblica. Posicionando-
Envolvidos nessas reflexões e debates, alguns teólogos presentes em Lausanne, especialmente os procedentes da América Latina, como René Padilha e Samuel Escobar, ambos palestrantes no congresso, insistiram na afirmação de que esse evangelho verdadeiro, ao ser anunciado, deveria abarcar ações de impacto social, econômico e político. Mesmo participando de um congresso antiliberal, o fato é que esses teólogos suspiravam os ares assistencialistas soprados pelo liberalismo da época e pela Teologia da Libertação, tão influente em seus países de origem.
Assim, segundo eles, o envolvimento da igreja com as necessidades sociais da humanidade era parte integrante de sua tarefa de testemunho cristão. No entender desses teólogos, para que o evangelho fosse anunciado de forma integral, era preciso acentuar o que entendiam ser sua “dimensão social”.
Os teólogos de Lausanne acolheram substancialmente essas concepções e, ao fim do congresso, produziram um documento denominado Pacto de Lausanne (redigido por John Stott) que, mesmo sendo claro e enfático em seus enunciados ortodoxos (como a afirmação da autoridade bíblica, a rejeição do universalismo e a crença no retorno literal de Cristo), deixou-
De fato, o Pacto de Lausanne afirmou que a igreja deve mostrar interesse “pela libertação dos homens de todo tipo de opressão” e que “a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão”.
É verdade que o Pacto de Lausanne, sendo predominantemente ortodoxo, declarou expressamente que a ação social não é evangelização, que a libertação política não é salvação (Artigo 5) e que a igreja não pode se identificar com nenhum sistema social ou político, nem com ideologias humanas (Artigo 6).
No entanto, apesar dessas ressalvas, pastores de tendências liberais e marxistas, considerando as conclusões do congresso muito tímidas no tocante ao papel social da igreja, deram ênfase aos enunciados do Pacto que lhes eram mais convenientes. Então passaram a falar sobre a missão integral da igreja com uma tônica nitidamente libertária e esquerdista, algo certamente jamais pretendido pelo próprio texto do Pacto de Lausanne.
Foi assim que a expressão Missão Integral da Igreja passou a ser fortemente relacionada com um “evangelho” que é pouco mais do que a defesa de uma ideologia política igualitária, contrária à distinção entre classes — uma ideologia que insiste na necessidade de grandes intervenções sociais por parte da igreja, mas que, em regra, não dá nenhuma ênfase à cruz, ao perigo da perdição eterna e à necessidade de arrependimento do pecador diante do Deus santo. De fato, o evangelho proposto pelos defensores liberais e marxistas da Missão Integral da Igreja acaba por encher estômagos (às vezes!), deixando os corações vazios (sempre!).
Obviamente, a igreja de Deus deve recusar o discurso assistencialista da chamada Missão Integral. Os princípios e prioridades relativos à ajuda aos carentes estão todos expostos nas Escrituras e é com eles que o povo de Deus deve se comprometer e não com vertentes filosóficas, sociológicas ou partidárias de esquerda que são, na verdade, versões evangélicas da Teologia da Libertação.
A igreja de Deus deve fugir disso tudo não só porque a ênfase exacerbada na ação social a afasta de sua tarefa essencial de proclamadora da cruz e do arrependimento.
A igreja deve fugir disso tudo porque a proposta aparentemente piedosa da Missão Integral é apenas um reflexo mais ou menos velado da teologia liberal e libertária que permanece viva e que não aceita a realidade da perdição eterna, anunciando, por isso, uma salvação meramente política e social no presente.
Além disso, é preciso destacar que, ao contrário do que muitos crentes de hoje pensam, nunca foi dever nem responsabilidade da igreja ser fonte de socorro material para o mundo. Com efeito, a igreja jamais foi idealizada por Deus como uma organização que tem por obrigação reduzir a pobreza e o sofrimento das pessoas. Se, conforme visto, ela tem essa responsabilidade em relação aos domésticos da fé (Gl 6.10), isso de modo nenhum se estende à sociedade como um todo. É sobre esse assunto que a parte final desta série vai tratar.
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