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19 de maio de 2017

Três Desejos e Mais Nada

“Que o próprio Senhor da paz lhes dê paz em todos os momentos e situações. Que o Senhor esteja com todos vocês... Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês” (2Ts 3.16,18).


A posição cronológica das cartas de Paulo aos tessalonicenses na história do Novo Testamento é indicada pela passagem de 1Tessalonicenses 3.1-6. Nesse texto, Paulo diz que, estando em Atenas, decidiu enviar Timóteo a Tessalônica, movido pela preocupação que tinha com a situação dos crentes daquela cidade. O apóstolo sabia que as muitas tribulações que recaíam sobre os cristãos dali podiam desanimá-los e, por isso, enviou um ministro até eles a fim de encorajá-los e consolá-los.


Como se vê em 1Tessalonicenses 3.6, Timóteo havia regressado trazendo boas notícias, o que deixou Paulo aliviado e o moveu a escrever sua primeira carta àquela igreja, compondo, logo em seguida, uma segunda carta.


Todos esses dados permitem que a composição das epístolas aos tessalonicenses seja situada ao tempo da segunda viagem missionária (At 15.36―18.22), mais especificamente durante a permanência de Paulo na Acaia, por volta do ano 51. Esses dados também mostram que as referidas cartas foram escritas a pessoas que o apóstolo pouco conhecia, dando provas de que o amor cristão não precisa de tempo para crescer e amadurecer. É um amor forte como o cedro, mas que cresce rápido como o capim e, como se vê, uma das formas como esse amor se manifesta é por meio de desejos expostos em orações.


Nos versículos transcritos acima, Paulo cita três desses desejos. Em primeiro lugar ele afirma que quer que os seus leitores tenham paz. Não é difícil imaginar o motivo disso. Os tessalonicenses viviam sob pressão numa cidade que hostilizava a fé cristã, considerando seus seguidores pessoas que alvoroçavam o mundo (At 17.6). Em Tessalônica, os judeus incrédulos eram intensamente atuantes no trabalho de atacar os crentes e de incentivar as multidões a fazer o mesmo. Eles chegavam a chamar homens vadios e perversos, gente que pertencia à ralé mais baixa da cidade, para atacar os crentes (At 17.5). Eles também se dispunham a ir a cidades vizinhas com o único objetivo de perturbar o trabalho dos missionários (At 17.13), tamanha sua dedicação na luta contra o evangelho.


De fato, se havia uma igreja que precisava de paz, essa igreja era a de Tessalônica. Paulo, então, expressa esse desejo destacando que a fonte da paz é Cristo, o “Senhor da paz” (Is 9.6; Jo 14.27), e que essa paz pode ser experimentada em “todos os momentos e situações”. Nesse aspecto, nossas noções comuns de paz são confrontadas. As pessoas tendem a crer que a paz é um momento ou uma situação. Paulo confere à paz um sentido mais amplo, indicando que é uma condição interna de serenidade que, milagrosamente, pode ser experimentada em qualquer circunstância, posto que sua origem está no Senhor (Fp 4.7). É por isso que o coração dos crentes descansa até sobre um cadafalso, enquanto o coração dos incrédulos se angustia até num passeio pelo jardim.


O segundo desejo de Paulo é que o Senhor esteja com todos os irmãos de Tessalônica. Ora, é sabido que Deus é onipresente, estando em toda parte e não somente junto aos seus (Sl 139.7-12). Contudo, sua presença amiga, protetora, confortante e abençoadora não é uma realidade que se estende por toda parte. Essa onipresença focal e positiva é um privilégio exclusivo dos crentes e o apóstolo almeja que seus leitores a experimentem, tendo em vista, certamente, os momentos de aflição em que a sensação de desamparo é muito forte. De fato, na hora do medo, a presença quase palpável de Deus é o único fator que faz diferença, impedindo que o crente se afogue no mar do desespero e seja capaz, então, de seguir em frente com força, coragem e bom testemunho (2Tm 4.16-17).


Concluindo, Paulo enuncia uma bênção na qual seu terceiro desejo se expressa. Ele almeja que a graça de Cristo esteja com a jovem e abatida igreja de Tessalônica. Paulo já havia expressado esse desejo em sua saudação (1.2) e agora a repete aqui, mostrando que nunca é demais rogar pela graça. Aliás, se recordarmos que a graça de Deus é a causa primária de todo bem que recebemos, desde a capacidade de respirar até a realização dos feitos mais inusitados, fica fácil entender porque Paulo sempre pediu que ela fosse derramada sobre seus amados leitores. Na verdade, uns quatro ou cinco anos mais tarde, ele pôde confirmar por experiência própria que a graça, sozinha, basta ao crente, tornando-o capaz de enfrentar a dor de qualquer espinho, seja de que tamanho for (2Co 12.7-9).


Se onde houver um espinho, brotar a divina graça,


o mais duro caminho por onde o bom crente passa


será seguro qual ninho formado do monte da sarça.


Será como mesa sem vinho, mas livre do pão da ameaça.


Foi com esses três desejos/súplicas que Paulo encerrou sua correspondência com a igreja de Tessalônica, sabendo que se aquela igreja recebesse essas coisas, jamais seria destruída, não importando quantos ataques fossem dirigidos contra ela. Levando isso em conta, temos de orar da mesma forma pela igreja em que Deus nos colocou. Ela também precisa de paz, também precisa da presença amiga de Deus, também precisa de sua graça. Pra dizer a verdade, talvez precise somente dessas coisas e de mais nada.


pr. marcos granconato

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