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14 de março de 2018

Dividir para Conquistar

Dentre outras semelhanças, o lema “dividir para conquistar” é uma política que une grandes personalidades históricas como o imperador Júlio César, Filipe II da Macedônia e Napoleão Bonaparte. Ao que parece, a unidade e a unanimidade sempre foram empecilhos para pretensões de domínio político-militar. Talvez, as razões sejam principalmente duas. A primeira é que é mais fácil convencer parte da sociedade que convencer ela toda, enquanto a segunda é ser mais palpável usar uma parcela da sociedade para dominar a outra que ter de subjugar um povo inteiro. Não que as pessoas sozinhas não tenham facilidade e propensão para desenvolver o ódio entre si, mas vê-se, ao longo de toda a história, que essa disposição humana para odiar é frequentemente utilizada como ferramenta de manobra de uma coletividade e como arma de dominação das massas.


Desafortunadamente, os antagonismos possivelmente exploráveis são muitos: pobres contra ricos, progressistas contra conservadores, homens contra mulheres, brancos contra negros, empregados contra patrões, direita contra esquerda. Para piorar, neste ano temos eleições e já vivemos clima de campanha política, o que faz com que tais antagonismos e antipatias entre diversos grupos sejam ainda mais promovidos e incentivados por quem quer levar algum tipo de vantagem eleitoral. O fato é que esses ódios na sociedade humana não têm solução e tendem até a piorar, visto que as Escrituras nos alertam de que “o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24.12b).


Contudo, se é de se esperar que o mundo viva tais conflitos, é também certo que os mesmos problemas e divisões não podem fazer parte da vida do corpo de Cristo. Com isso em mente, podemos pensar em alguns conselhos bem práticos e úteis, com bases bíblicas contundentes e desafiadoras:


1. Não crie ou incentive divisões no que Cristo uniu. O apóstolo Paulo, escrevendo aos efésios, mostrou como até mesmo a inconciliação de séculos entre judeus e gentios foi anulada e resolvida pela obra salvadora de Jesus, que uniu em um só corpo aqueles que nele creem: “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade” (Ef 2.13-14).


2. Não supervalorize a si mesmo, sua escolha ou sua condição. Um dos pontos fracos das pessoas para que formem blocos antagônicos é o orgulho, pelo qual elas se consideram melhores que os outros e imaginam que sua condição, seja relativa a raça, estudo, sexo ou posição social, as fazem superiores. Pedro instrui, ao contrário, que busquemos igualdade no que tange ao ânimo, amor e bondade uns para com os outros: “Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1Pe 3.8-9).


3. Valorize a paz no corpo de Cristo como reflexo de um caráter transformado. A falta de domínio próprio faz com que seja frequente que pessoas que são contrariadas deem vazão à ira e às desavenças. Porém, Tiago ensina que o crente deve ser alguém de trato transformado, marcado por sabedoria e uma disposição pacífica e moderada, refletindo sua condição espiritual diante de Cristo: “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz” (Tg 3.17-18).


4. Valorize pensamentos e ideais que unem os irmãos. Não é errado ter gostos, opiniões e opções pessoais, mas nada disso deve superar o bem e a comunhão da igreja de Cristo. Nesse caso, o crente deve pesar o valor de suas opções com a importância superior da unidade do povo que o Senhor uniu pela fé em Jesus. Assim, ainda que nem todas as opiniões coincidam (o que é natural), as pessoas redimidas devem pensar “concordemente, no Senhor” (Fp 4.2b). Quando Paulo deu essa instrução, ele queria, principalmente, que duas irmãs, que foram grandes companheiras na obra de Cristo e que estavam brigadas, voltassem à plena comunhão para que a igreja e a obra de Deus não sofressem. Nem sempre temos de decidir entre o certo e o errado; algumas vezes é preciso escolher entre duas coisas boas das quais uma tem mais valor que a outra. Nesse caso, a unidade, a comunhão e a paz da igreja certamente são mais importantes que opções, escolhas ou condições pessoais.


Por isso, ainda que sejamos alvos tanto das estratégias do mundo de colocar uns contra outros a fim de dominar como dos impulsos naturais que nos levam a supervalorizar nós mesmos em detrimento dos demais, não deixemos, de modo algum, que tais expedientes maculem a união dos irmãos nem o bom convívio e cooperação dos servos de Cristo. Antes, sigamos dia a dia o conselho do apóstolo: “Vivei em paz uns com os outros” (1Ts 5.13b).

pr. thomas tronco

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