“Agir com parcialidade não é bom; pois até por um pedaço de pão o homem se dispõe a fazer o mal. Aquele que tem olhos invejosos corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ele a penúria” (Pv 28.21,22 NVI).
Joseph Wingate Folk (1869-1923), governador do Missouri eleito em 1904, disse certa vez o seguinte: “Seis anos atrás, um deputado estadual aceitou 25 mil dólares para votar em um determinado projeto de lei. Mais tarde, ele recebeu 50 mil dólares do outro lado, devolvendo os 25 mil ao primeiro pagante. Quando o homem foi investigado pela propina que recebeu a troco do seu voto, o investigador perguntou: ‘Por que você devolveu os 25 mil dólares?’. O deputado ficou de pé em toda sua altura e, com uma voz que mostrava seu desprezo ao investigador por causa da tal pergunta, respondeu: ‘Eu quero que você saiba que eu sou consciente demais para tirar dinheiro de ambos os lados!’”. Bastante curioso o conceito dele de honestidade.
É claro que esse falso conceito de integridade é apenas ilusório, pois quando alguém recebe dinheiro para tomar uma decisão, certamente alguém será beneficiado em detrimento de outros, os quais serão prejudicados, explorados ou perseguidos. Por isso, Salomão afirma que “agir com parcialidade não é bom”. Parcialidade é um pecado que pode assumir muitas formas, pelo que também outros escritores bíblicos a condenam, seja na obediência a Deus (Ml 2.9), no ministério cristão (1Tm 5.21) ou no trato com ricos e pobres (Tg 2.1-9). Porém, a razão desse provérbio é abordar a conduta de pessoas que têm a responsabilidade de se posicionar ao lado da justiça e não o fazem para atingir objetivos egoístas. Na verdade, eles arriscam a segurança e o bem-estar dos outros para embolsar a propina que recebem, pelo que o escritor diz que “até por um pedaço de pão o homem se dispõe a fazer o mal”.
Infelizmente, esse é um problema que não é novidade para as pessoas do nosso tempo, pois constantemente veem-se notícias de políticos e juristas que se vendem a interesses de poderosos que pagam bem. Isso é revoltante, mas acontece porque é verdade que “aquele que tem olhos invejosos corre atrás das riquezas”, mesmo que por vias espúrias e desonestas. Porém, o que parece ser o paraíso da impunidade — já que os ímpios poderosos se protegem —, esbarra na soberania do justo juiz de todo o mundo. Assim, aquele que se vende para prosperar na vida “não sabe que há de vir sobre ele a penúria”, algo que gratamente também podemos constatar por intermédio dos meios de comunicação. Por isso, o servo de Deus, que odeia todo esse tipo de corrupção, não pode agir com parcialidade quando isso lhe parecer pessoalmente benéfico, mas deve agir com integridade e justiça, ainda que haja um custo pessoal e ele que tenha repreender parentes e amigos. É difícil agir desse modo, mas pior é ser parcial — “ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6.24).