Meditação © Amplo Publications

9 de setembro de 2015

Diga: Eu Amo Você!

Os comerciais de margarina geralmente mostram cenas que retratam famílias muito felizes. Pais, mães e filhos aparecem sorridentes, bem-vestidos, sentados ao redor de uma mesa farta, numa bela manhã ensolarada. Gosto dessas cenas e acho que todas as refeições das famílias crentes deveriam reproduzir o ideal de alegria e união das famílias das margarinas. Infelizmente, porém, a vida em família não se limita às horas alegres das refeições. No convívio familiar, temos de entrar noutros cenários além da cozinha; temos que vivenciar situações variadas em dias não muito ensolarados, em momentos em que nem todos estão satisfeitos e sorridentes. De fato, no “filme” da nossa casa, temos de nos apresentar como personagens de outras cenas que, dependendo da nossa atuação, podem fazer do filme um Love story ou um A hora do pesadelo!

Para que, em nossa casa, o roteiro seja leve e suportável, creio ser necessária a repetição constante de, no mínimo, três cenas: a cena da oração, a cena da confissão e a cena do coração.


A cena da oração é aquela em que um dos membros da família ocupa a sala, a cozinha ou o quarto e ali gasta um tempo a sós com Deus (Mt 6.6). Assistir a essa cena devia ser uma experiência comum para todos da casa. Por exemplo, a mãe que entra no quarto da filha não deveria estranhar encontrá-la de joelhos ali, apresentando suas súplicas a Deus. Tampouco a filha, ao ser “surpreendida” nesse ato, deveria se sentir constrangida ou sem jeito. Para ambas, essa cena deveria ser normal e constante — parte absolutamente previsível do filme A família cristã: o retorno.


A segunda cena, a cena da confissão, é um pouco densa, mas nunca falta no filme do lar que tem o próprio Deus como diretor. Nessa cena, o cenário é meio cinzento, havendo pouca luz; a música é lenta e cheia de emoção, os rostos dos personagens são graves e, às vezes, molhados por lágrimas. É a cena em que um dos membros da família se aproxima do outro para pedir perdão por uma palavra ofensiva, por uma brincadeira de mau gosto, por um esquecimento, uma falha, um tropeço, um erro intencional ou não (Mt 5.23-24). Apesar de se repetir com bastante frequência no lar dos crentes, a cena da confissão nunca envelhece e nem cai na mesmice entediante que a gente vê nos filmes da Sessão da tarde. Em vez disso, ela é sempre nova, trazendo lições e sensações também novas e inaugurando muitas vezes uma etapa diferente na maravilhosa aventura que é viver em família.


Finalmente, vem a cena do coração. Tenho de tomar cuidado aqui, pois não quero transmitir a ideia de uma cena marcada por romantismo demagógico, aquela cena tipo piegas que só consegue gerar comoção em gente ingênua, incapaz de perceber que está sendo manipulada. Não, a cena do coração de que falo aqui não tem fundo musical, abraços emocionados, jargões batidos ou frases de efeito. É uma cena simples, rápida e corriqueira. Nela, um membro da família simplesmente diz ao outro: “Eu amo você” (1Co 13.1-7). Isso é dito ao fim de um telefonema, após um “boa-noite” ou na hora de dizer tchau. É como um lembrete constante que o marido dirige à esposa, o filho ao pai, o irmão à irmã. E, mais uma vez, essas palavras têm de ser tão comuns na experiência da família cristã que ninguém deveria se sentir sem jeito ao ouvi-las ou proferi-las.


Dizer “eu amo você” a alguém da família é muito importante — e se essas palavras não forem ditas dentro de casa, onde mais as ouviremos? Somos oprimidos por um mundo selvagem o tempo todo enquanto tentamos sobreviver dentro dele. Também lidamos com as circunstâncias ruins da vida que simplesmente nos sobrevêm, sem mais nem menos. Chegamos a casa com os pés cansados depois de termos sido ofendidos no trânsito, perseguidos no trabalho, incomodados por parentes encrenqueiros e injustiçados por um governo sujo. A soma disso tudo traz desânimo. Isso sem falar dos dias em que, sem motivo aparente, os homens se sentem fracassados e as mulheres se sentem feias (os homens também se sentem feios, mas no caso deles não há muito que fazer).


Vivendo esse drama constante, quão preciosos serão os momentos em que alguém nos diz, mesmo em flashes ligeiros e repetitivos, “eu amo você”. Sim, pois nesses flashes está embutido um discurso mais ou menos assim: “Olhe, o amor que tenho por você não depende do seu sucesso, da sua aparência, do seu estado de espírito ou da sua saúde. Esse amor estava aqui ontem e continua aqui hoje, independente de tudo. Ele estava vivo quando lhe telefonei pela manhã e não morreu agora que o dia acabou. E esse amor é imenso. Se posso expressá-lo em três palavras, não posso contê-lo em três universos. Por isso, anime-se e pode se sentir seguro, sabendo que a escuridão assusta, mas não ensurdece. E se ela não ensurdece, aproveite para ouvir mais uma vez: ‘Eu amo você!’”.


Bom, eis aí as três cenas produzidas constantemente nos estúdios do lar cristão. Agora vem a pergunta chata: você as tem protagonizado? Se não tem, que filme feio e sem graça deve “rolar” em sua casa! Dê um jeito de mudar isso e, sob a dependência de Deus, desempenhe novos papéis. Isso mesmo! Participe da cena da oração, da cena da confissão e da cena do coração. Diga: “Senhor, eu venho a ti...”. Diga: “Por favor, me perdoe...”. Diga: “Eu amo você”.

pr. Marcos Granconato pr. sebastião machado

8 de setembro de 2015

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