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3 de fevereiro de 2016

Crescimento Numérico

A mentalidade de que crescimento numérico é evidência do favor de Deus domina o meio evangélico há várias décadas. Tanto é assim, que a qualidade do ministério de um pastor ou o suposto grau de aprovação de uma igreja diante de Deus são medidos, muitas vezes, exclusivamente com base nesse critério. Por causa disso, se a gente apontar para os desvios doutrinários absurdos, o mundanismo, a falta de real devoção e os escândalos tão comuns nas megaigrejas que há por aí, logo aparece um “santarrão espiritualóide” dizendo: “Se esse pastor e essa igreja são tão ruins como você fala, por que Deus os tem abençoado tanto? Você já viu como seus cultos são lotados?”.

É evidente que falta a muitas dessas pessoas o discernimento espiritual necessário para aprovar as coisas excelentes (Fp 1.9-10). Falta-lhes também o conhecimento bíblico que realça que, nos últimos dias, os homens buscariam mestres “segundo as suas próprias cobiças” (2Tm 4.3). Esse versículo, diga-se de passagem, deixa evidente por que quem prega a velha e apodrecida doutrina do sucesso financeiro sempre tem seguidores aos milhares!


Falta, porém, algo mais àqueles que associam crescimento numérico à bênção de Deus. Desculpem a sinceridade, mas, a meu ver, falta-lhes também capacidade de percepção ou de raciocínio. Digo isso porque não é preciso ter um cérebro de Einstein para perceber que muitos movimentos absolutamente contrários à fé crescem numericamente num ritmo assustador. Isso é tão evidente que eu fico até com medo de dar alguns exemplos e ser acusado de gastar tempo dizendo obviedades. Mesmo assim, vou citar alguns...


Observem o crescimento do nazismo na primeira metade do século 20. Praticamente toda a Alemanha abraçou essa “idelologia” que se expandiu além de sua “pátria mãe”, encontrando apoio em diversos países. Aliás, o nazismo, que alguns pensam ingenuamente estar morto, continua ativo e crescerá ainda mais, especialmente agora que o livro de Hitler, o Mein Kampf (Minha Luta), caiu em domínio público. Acaso isso prova que o nazismo é aprovado por Deus?


Observem ainda o islamismo. Todos percebem claramente a ameaça que essa crença representa para a liberdade religiosa ou para qualquer outro tipo de liberdade. Quanta tolice é crer que somente os “radicais islâmicos”, com seus atos de terrorismo, são perigosos para a sociedade ocidental! Muçulmanos em geral “coisificam” as mulheres, são favoráveis à pena de morte aplicada aos homossexuais, aprovam o casamento de garotinhas de dez anos com marmanjos de quarenta... Mesmo assim, essa religião cresce numericamente. Na verdade, algumas estatísticas afirmam que é a religião que mais cresce no mundo! Será que esse crescimento decorre da bênção de Deus? Ora, por favor!


Considerem finalmente o movimento LGBT. A Bíblia condena expressamente o homossexualismo e é contrária à ideia de que os homossexuais “nascem assim”. Segundo as Escrituras, a responsabilidade pelos atos homossexuais é da própria pessoa que os pratica, sendo certo que essa pessoa prestará contas desses atos ao próprio Deus. Ademais, o simples senso natural repugna a prática e a “filosofia” homossexual. É, de fato, um grande agravo ao decoro e à decência tudo que se vê, por exemplo, numa “Parada Gay”. Zombarias grosseiras dirigidas contra a fé cristã, atos indecorosos praticados em público sob a luz do dia, exibições de corpos mutilados ou modificados por chocantes protuberâncias artificiais... Tudo isso é o que se vê nesses desfiles. No entanto, ainda que o número de pessoas que comparecem às paradas gays tenha caído vertiginosamente, segundo algumas pesquisas, o fato é que o movimento LGBT cresce a cada dia em número de indivíduos que o apoiam. Até crianças hoje em dia defendem o homossexualismo! Seria esse crescimento numérico uma prova do favor de Deus. Óbvio que não.


A grande realidade que se depreende das Escrituras é que o crescimento numérico em si não significa muita coisa. Na verdade, conforme visto, o mero crescimento numérico de um partido ou mesmo de uma igreja pode ter como causa fatores ruins, capazes de atrair um número imenso de homens maus. Por isso, é necessário que o crescimento de uma igreja esteja associado a outros elementos para que seja considerado saudável e também seja visto como resultado da ação graciosa de Deus. Que outros elementos são esses? A resposta a essa pergunta está em Atos 9.31: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número”.


Note que o crescimento saudável da igreja primitiva era uma bênção de Deus associada ao viver digno e santo de crentes que andavam no temor do Senhor e que eram edificados enquanto viviam assim. Ora, é evidente que a vida vivida sob o temor do Senhor se afasta de escândalos, imoralidades, palavreado sujo, desonestidades, mentiras, fraudes e hipocrisias. O texto indica, portanto, que a igreja primitiva em geral tinha um testemunho maravilhoso, sendo encorajada pelo Espírito Santo (a palavra traduzida como “conforto” pode significar também encorajamento ou assistência) que lhe dava ousadia, direção, sabedoria e disposição para o serviço. Então, como resultado disso tudo, a igreja “crescia em número”.


Eis aí o crescimento numérico desejável, decorrente da aprovação de Deus. Por isso, é preciso destacar que, se uma igreja cresce enquanto seus membros não andam e nem são edificados no temor do Senhor, há, sem dúvida, algo muito errado com essa igreja. Talvez ela esteja oferecendo coisas ruins e, por isso, esteja atraindo homens ruins; talvez esteja proclamando ideias e realizando programações que se harmonizam com as expectativas perversas dos incrédulos; talvez tenha mestres que anunciam doutrinas em total sintonia com a cobiça dos iníquos; ou talvez esteja usando meras estratégias de marketing, adotando técnicas que nada têm a ver com a construção de uma igreja realmente bíblica. Lembrem-se: onde estiverem os cadáveres do falso ensino e dos artifícios humanos, aí se ajuntarão os abutres, saltando alegremente em meio à carniça.


Tenhamos, pois, cuidado. Avaliemos as coisas com mais precisão e inteligência. Também supliquemos ao Senhor que sua igreja aumente mais e mais suas fileiras. Peçamos, porém, que esse aumento não ocorra a qualquer custo. Que o santo cordeiro da verdade e da pureza não seja sacrificado no altar do crescimento numérico. Que os salões lotados durante os cultos sejam reflexos de igrejas que andam no temor do Senhor e não de comunidades que criam atrações mundanas. Se não for assim, então que continuemos a ser, nas palavras de Jesus, um “pequenino rebanho”, tentando ajustar a vida ao que ele quer, a fim de que o aumento saudável e verdadeiro aconteça no tempo devido.

pr. Marcos Granconato

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2 de fevereiro de 2016