Meditação © Amplo Publications
Estamos no mês do Natal. Por isso, impelido pelo tema da encarnação do Verbo, no domingo passado eu preguei sobre as razões pelas quais o Filho se fez homem. Tomei por base o texto de 1Pedro 2.21-
De fato, Cristo se fez homem, entre outras coisas, para nos servir de exemplo. Isso, a princípio, pode parecer simplista, trazendo-
O que quero dizer com isso? Bem, deixem-
Pensem, por exemplo, num pastor que ministra no contexto pentecostal. Na compreensão geral desse grupo evangélico, o crente tem de estar sempre alegre, vibrando sem parar, tomado de uma plenitude espiritual que o tira do chão e o conduz a arroubos de júbilo, entusiasmo e vibração constantes. Portanto, se, por algum motivo, alguém não se mostra assim nesse meio, essa pessoa é logo exortada. Dizem que ela está fora da “unção” (seja lá o que isso signifique), que precisa buscar mais a alegria do Senhor, que está vivendo na carne, longe do fervor do Espírito e coisas do tipo. Obviamente, isso lança o indivíduo cansado e triste num abismo imenso de culpa, agravando seu estado emocional. No caso de um pastor, a complicação aumenta, já que ele se sente obrigado a dar exemplo. O fardo que tem sobre si, portanto, é infinitamente maior. E se ele estiver num vale escuro, com a cabeça repleta de pensamentos de morte, essas cobranças certamente vão afundá-
Agora pensem num pastor arminiano. Fundamentando-
Inconformado, esse pobre pastor tenta, então, “turbinar” seus sermões com histórias emocionantes, pede para a igreja cantar hinos bem tocantes na hora do apelo, grita em alguns pontos do sermão a fim de intimidar os incrédulos, fala, por exemplo, de pessoas que não atenderam ao apelo e foram atropeladas e mortas logo que saíram da igreja, perdendo assim, para sempre, a chance de ir para o céu... Ele faz tudo isso e, no entanto, pouco ou nada acontece. Desse modo, seu valor pessoal vai lá pra baixo; sua angústia é redobrada com questionamentos acerca de ele ter sido mesmo chamado por Deus; e oponentes cruéis o criticam, dizendo que sua mensagem é fraca e estéril e que ele não tem a vocação de um verdadeiro “ganhador de almas”.
Imaginem o peso dessa imensa frustração sobre um homem já deprimido em virtude de outros fatores. Seu coração se esfria ainda mais, seu ânimo se esvai, sua auto-
Quão mais leve seria o fardo desses pastores se tivessem Jesus como exemplo no modo como se deve ver a vida e o ministério. Sim, pois a história do Filho de Deus, em sua visita a este mundo, mostra que o homem santo nem sempre vive pulando de alegria, podendo, sim, chorar durante a noite, sozinho, num jardim, não havendo nada de reprovável nisso. Observando as coisas com os olhos de Jesus, ele também aprenderá que a fé que salva não resulta da boa argumentação dos pregadores, de sua boa retórica, de suas habilidades ou de seus artifícios homiléticos. Antes, advém da ação de Deus, já que ninguém pode ir a Cristo sem que isso lhe seja concedido pelo Pai (Jo 6.37,44,65). João realçou essa verdade, ensinando que os crentes não nasceram da vontade da carne, mas de Deus (Jo 1.12-
Quão aliviadoras são essas verdades para os ministros de Cristo! Como é bom saber, a partir do exemplo de Jesus, que podemos viver nossas angústias e, ainda assim, sermos acolhidos sem censura por Deus e pela igreja madura! Como é bom lembrar, sob a ótica do Senhor, que nosso papel como pregadores é apenas lançar e regar a semente, indo depois descansar, deixando o crescimento nas mãos do Pai (1Co 3.6-
Olhem, pois, para o exemplo de Jesus, pastores tristes. Olhem para sua forma de viver a vida e para sua forma de ver a vida. Olhem para ele e sigam em frente.
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