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4 de abril de 2017

Uma Pequena Oração, Duas Grandes Lições

“Assim, continuamos a orar por vocês, pedindo a nosso Deus que os capacite a ter uma vida digna de seu chamado e lhes dê poder para realizar as coisas boas que a fé os motivar a fazer” (2Ts 1.11).

Esse versículo menciona pedidos de oração que Paulo apresentava constantemente a Deus em favor da igreja recém-fundada de Tessalônica. As súplicas envolvem a capacitação para viver de modo digno da vocação cristã e o poder para realizar as boas obras incitadas pela fé.


Ninguém duvida que esses pedidos são muito importantes. No entanto, para compreender por que Paulo os apresentava a Deus com tanta frequência, é preciso levar em conta que o versículo começa com a palavra “assim”. Trata-se da tradução de uma pequena expressão grega que indica conexão com o que foi dito anteriormente. Essa expressão grega pode significar “com isso em mente”, ou “por causa disso”, ou ainda, “por essa razão”.


Isso indica que esses pedidos que o apóstolo fazia a Deus em favor de seus leitores eram construídos sobre motivos definidos, todos elencados no trecho que ele escreveu antes, mais especificamente nos versículos 7-10. O que dizem, então, esses versículos? Eles dizem que os incrédulos serão terrivelmente punidos na vinda do Senhor (8-9), mas os crentes, em chocante contraste com eles, receberão descanso nesse dia e glorificarão o seu Senhor (7,10).


Foram, portanto, essas verdades escatológicas que mostram um contraste tão gritante entre o destino dos incrédulos e o dos crentes que encorajaram Paulo a orar pelos convertidos de Tessalônica. Com esse contraste em mente, ele rogava a Deus que capacitasse seus leitores a viver à altura do chamado tão especial que tinham ouvido e pedia também que o Senhor lhes desse poder para realizar as obras próprias da fé nutrida por aqueles que estavam destinados a glorificar a Deus para sempre (10).


Por conseguinte, a linha de raciocínio traçada a partir desse trecho da Bíblia pode ser resumida assim: os incrédulos têm um futuro horrível reservado para eles; já os crentes receberão descanso quando o Senhor voltar e, além disso, vão glorificá-lo. Isso deve fazer com que nós, cristãos, oremos pelos nossos irmãos, pedindo a Deus que lhes dê capacidade e forças para, com seu modo de vida, honrar uma esperança tão sublime.


Essa linha de pensamento destaca uma boa motivação para que todo crente ore em favor de sua igreja. Isso, por si só, já encerra uma tocante lição. Porém, o versículo em destaque serve de fundamento para mais verdades preciosas. Dentre elas, uma que merece destaque é a de que é o Senhor quem capacita seu povo a viver em santidade. Afinal de contas, se não fosse assim, Paulo não apresentaria pedidos desse tipo a Deus.


Ora, está longe de discussão que o discípulo de Jesus deve empregar todas as suas forças na busca de um modo de vida que seja do inteiro agrado de Deus (Ef 4.3; Fp 2.12; Cl 3.5; 2Pe 1.5-11; 3.14). O outro lado da moeda, porém, o lado mostrado no versículo em análise, mostra que todo esforço na busca da retidão será inútil caso Deus, ministrando sua graça, não capacite o crente ou lhe dê poder para realizar as boas obras da fé.


É claro que esse tipo de lição levanta perguntas intrigantes. Por exemplo: por que Deus nem sempre nos capacita a fazer o que ele próprio requer? Perguntas assim geram discussões diversas e produzem respostas que poucas vezes satisfazem nosso raciocínio. A razão disso é simples: a própria Bíblia não oferece soluções para dilemas desse tipo. Isso, talvez, signifique que é melhor deixarmos problemas dessa natureza dentro da obscuridade, sendo esse o ambiente natural em que se encontram nas próprias Escrituras. Em outras palavras, se alguma dificuldade teológica não é resolvida claramente pelos autores bíblicos, deixe-a assim, mantendo sua opacidade, jamais tentando quebrar a casca impenetrável que a envolve.


Tendo feito isso, volte-se então para o alvo claro dessas lições misteriosas. No caso da lição que emana do nosso versículo, ou seja, a lição que diz que Deus é quem nos capacita a fazer o que ele quer, veja isso como uma forma de aprender dependência e gratidão. Como? Muito simples. Ao se ver diante da necessidade de ser um crente melhor, diga: “Senhor, ajuda-me”. Ao perceber que Deus fez de você um crente melhor, diga: “Senhor, obrigado”. Esse é um exemplo da reação que devemos ter em face de problemas bíblicos herméticos. E, cá pra nós, creio que era precisamente esse tipo de reação (e não a criação de respostas especulativas) que Deus queria produzir em nós quando colocou algumas questões insolúveis na Bíblia.


A partir de uma leitura inicial, eis aqui duas lições que brotam do versículo citado acima: devemos orar pela santidade dos nossos irmãos porque eles vão participar de um futuro glorioso; devemos orar pela santidade dos nossos irmãos porque somente Deus pode capacitá-los a viver em retidão.


Pedimos tantas coisas a Deus em favor dos crentes que conhecemos, não é mesmo? Por que, tendo aprendido essas lições, não passamos também a pedir que o Pai “os capacite a ter uma vida digna de seu chamado e lhes dê poder para realizar as coisas boas que a fé os motivar a fazer”?


pr. marcos granconato

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