Meditação © Amplo Publications
Entender a natureza infinita de Deus é um desafio grande demais para seres finitos como nós. A verdade é que, mesmo com toda a eternidade pela frente, jamais assimilaremos por completo a grandeza do ser de Deus e toda a profundidade de sua mente. Nosso Deus é imenso (temporal e espacialmente), sua mente é insondável e sua glória é indizível. Tudo que sabemos e dizemos sobre Deus se assemelha a uma pequena fagulha procedente de um vulcão. Jamais seremos capazes de captar plenamente a infinita majestade do soberano Senhor e criador do universo.
Entre as gloriosas verdades sobre Deus que temos dificuldades em entender está a doutrina da Trindade. O monoteísmo cristão é singular. Cremos que há somente um Deus, mas que esse Deus subsiste em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Como entender algo assim?
Obviamente, não somos a primeira geração de crentes que lida com “nós” doutrinários. Na verdade, os primeiros séculos do cristianismo foram marcados por períodos de intensa reflexão teológica. Aliás, entre os temas que agitaram bastante a cabeça dos grandes pensadores cristãos do passado estava precisamente a doutrina da Trindade.
Isso seria de se esperar. A doutrina da Trindade se impõe ao crente por causa da revelação bíblica, mais especificamente os ensinos do Novo Testamento. Logo, nenhum teólogo cristão do passado elaborou essa doutrina porque queria arrumar “sarna pra se coçar”. O fato é que os mestres da igreja dos primeiros séculos não tiveram opção. Lendo a Bíblia, eles se viram diante da afirmação de que há somente um Deus (Dt 6.4; Tg 2.19). Até aí, tudo bem. Porém, a análise dos escritos apostólicos revelou que não somente o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, mas também que o próprio Jesus é detentor de real divindade (1Jo 5.20). E mais: a análise levou os teólogos antigos a lidar também com textos bíblicos que afirmavam a divindade do Espírito Santo (At 5.3-
Para alguns, a solução foi negar terminantemente a divindade de Cristo e do Espírito, interpretando a evidência bíblica de um modo que se ajustasse aos seus interesses e opiniões. Como resultado, grandes conflitos surgiram dentro da igreja. Os teólogos queriam definir como um cristão deveria pensar e a variedade de opiniões em matérias tão importantes era um obstáculo para a paz entre os pastores e a unidade doutrinária e eclesiástica. Afinal de contas, pensavam, quais os contornos exatos da ortodoxia? Em que um cristão deve crer para não ser considerado herege? Debates, tratados, credos e definições de fé foram produzidos tendo esse assunto como tema e, no fim de tudo, os teólogos antigos, em sua maioria, se curvaram à realidade de que a Bíblia é monoteísta, mas, ao mesmo tempo, afirma a divindade não somente do Pai, mas também do Filho e do Espírito.
Uma vez que a Bíblia afirma isso tudo sem dar explicações claras, os teólogos do passado fizeram o mesmo. Eles afirmaram o monoteísmo trinitário sem explicar como isso deve ser entendido por meio dos mecanismos da razão. Por isso, os credos da igreja antiga, quando se manifestam a esse respeito, não oferecem esclarecimentos. Eles somente dizem o que se depreende das Escrituras, apontando um fato insondável acerca de Deus que todo cristão deve aceitar pela fé, mesmo sabendo que se trata de um desafio à razão.
Por que esse assunto era tão importante para os mestres do passado? Que relevância essas coisas têm para os crentes? As implicações vivenciais da doutrina da Trindade são várias, mas duas nos vêm à mente de pronto. A primeira é a verdade que destaquei no início referente à insondabilidade de Deus. Sendo um ser que subsiste em três pessoas, o Senhor se situa numa realidade distinta da nossa, mostrando-
Em segundo lugar, a doutrina da Trindade nos livra de prestar um culto equivocado. Se o Pai é Deus, assim como o Filho e o Espírito, então essas três pessoas devem ser objeto de nossa adoração individual e coletiva. Se Pai, Filho e Espírito Santo são um só Deus, temos que honrá-
Eis aí um pouquinho da importância dessa intrigante doutrina. Como ela diz respeito ao ser de Deus que é infinito, é natural que não a entendamos plenamente. Contudo, se ela não nos livra das dúvidas, certamente nos livra dos erros. Ora, é melhor acertar tendo dúvidas do que errar nutrindo falsas certezas.
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