“O preguiçoso não aproveita a sua caça, mas o diligente dá valor a seus bens”. Provérbios 12.27
Conheci, no sertão do Brasil, um homem que era muito hábil para caçar. Parte da carne consumida por sua família era fruto de horas de tocaia no meio do mato aguardando uma presa para abatê-la. Certa vez, esse homem teve a oportunidade de abater um bicho bem grande, o qual teve de arrastar por um longo caminho até em casa. Chegando ao lar, cansado, deixou a caça no quintal, tomou um banho e foi descansar. O trabalho ainda não tinha acabado, pois precisava limpar e temperar a carne para que fosse conservada. Como o cansaço e a preguiça o acometeram fortemente, ele achou mais fácil descartar a carne que trabalhar mais um pouco nela a fim de alimentar a família.
Salomão fala de uma experiência semelhante. Seu alvo é novamente o “preguiçoso”. Segundo o rei sábio, ele “não aproveita a sua caça”. Essa tradução não ajuda a compreender corretamente o que o escritor tinha em mente. A palavra que ele usa não é exatamente aproveitar, mas “assar”. Assim, ele diz que o homem tomado pela preguiça perde até mesmo o que trabalhou para conseguir. No caso em questão, o preguiçoso gastou tempo caçando, mas sua preguiça não o deixou se beneficiar do trabalho, pois ele não chegou a assar a carne para comê-la. Perdeu o alimento e trabalho. Isso significa que a preguiça pode entrar em cena em diversos estágios da responsabilidade. Pode impedir o preguiçoso de iniciar o trabalho ou pode impedi-lo de terminar. De qualquer modo, ele fica no prejuízo por não ter domínio próprio nem responsabilidade suficiente para começar e terminar algo que deve fazer.
O homem sábio é “diligente” com seus deveres. Ele sabe quanto custa cada coisa, quanto foi difícil obtê-la e quanto foi cansativo o trabalho que possibilitou tal provisão. Por isso, ele “dá valor a seus bens”, agindo com responsabilidade do início ao fim. Esse homem também cansa do trabalho e também é tentado a desistir, rendendo-se ao descanso irresponsável. Mas ele se domina e faz o que precisa. Quando descansa, não é como a derrota do preguiçoso, mas como o triunfo do vitorioso. Na verdade, ele pode ter um melhor descanso que o preguiçoso, pois está devidamente suprido de suas necessidades e tem a consciência tranquila e leve. Trabalhe primeiro e descanse depois! Essa é a receita do verdadeiro deleite.